Num dia, muito chuvoso, em que o sol teimava em não nos aquecer com os seus braços quentes, parei no tempo a observar cada gota que caía, repetidamente, no chão molhado.
Desliguei-me de tudo o que me rodeava, e silenciei o barulho, incansável, de uma cidade atarefada.
Sons, que como num toque de magia, cessaram em favor de uma melodia suave e doce, que outrora se camuflava por entre a poluição sonora da cidade.
Melodia desconhecida, voluntariamente, por cada pessoa que vive, dia após dia, no turbilhão de momentos das suas vidas.
Ao longo do tempo que, com gratidão e agrado, dispensei para ouvir esse som melódico, deparo-me com uma realidade que antes não me era tão evidente assim.
Apercebo-me, então, que a melodia que oiço, é exclusivamente dedicada a mim.
Só minha!
Como poderei eu, simples mortal, rejeitar uma oferta da Mãe Natureza?
Simplesmente, não posso!
Nem quero, pois é algo que me enche de alegria e que me faz entender, e sentir, que sou amada por quem me criou.
Ironicamente, ouvem-se nas rádios, conversas musicais, entre pessoas que com ignorância ou desconhecimento, escolhem músicas como troféus das suas vidas.
Dedicam músicas a terceiros, e a elas próprias, com a justificação de ser a música das suas vidas.
Estas mesmas pessoas, só o fazem porque desconhecem que, na realidade, a música da vida delas, já nasceu com elas, e as vai acompanhando a cada passo dado no caminho da vida.
Música, que jamais fora inventada por um músico, que brinca com as palavras, e que as vai conjugando em frases que ao som de muitos instrumentos, formam musicalidades que com o tempo, todos os que a ouvem, vão decorando a letra, e a vão cantando de cor e salteado.
No entanto, há uma música da qual cada um de nós é o único autor e só nós, no nosso íntimo, podemos interpretar e decifrar cada letra e cada palavra.
Simplesmente, composta por uma melodia tão natural como qualquer coisa criada pela Natureza.
E, que só a nós pertence, e só nós temos o poder de a criar e de a entender na sua plenitude.
Nessa melodia, não há terceiros para ser criada, nem instrumentos para ser acompanhada.
Como é criada pela Natureza, para cada seu filho, ela é composta unicamente por elementos naturais, como os chilrear dos passarinhos, o cair das folhas, o som de cada gota de chuva a cair suavemente no chão, entre muitas outras coisas tão naturais.
Eu, tu, e toda a gente, tem a melodia da vida!
Para ouvi-la, basta encontrar o silêncio, puro e natural, e deixar que a melodia da vida comece a tocar, por nós.
Tal como qualquer música, ela tem os seus momentos de desafinação, que mais cedo ou mais tarde, encontra a afinação correcta para, assim, se tornar numa bela e doce melodia.
Desafinações, que são reflexos dos momentos menos bons da nossa vida, que com o tempo e com muita força de vontade, se tornam em acordes afinados, reflexos dos bons momentos da nossa vida.
Altos e baixos, são os acordes que compõe a melodia da nossa vida, e só depende de cada um de nós, com ensaios de vida, manter os altos e enfrentar os baixos, para que a nossa vida se preencha de bons e agradáveis momentos.
Por conseguinte, esse preenchimento de bons momentos, transformam a nossa simples melodia, plenamente maravilhosa e doce.
Ela depende de nós para ser bela, e para durar mais do que os banais cinco minutos, de cada música ouvida na rádio. Ela pode durar uma eternidade, só depende de cada um de nós, pois só nós somos os compositores, os vocalistas e os maestros da nossa melodia da vida.
Apenas, e exclusivamente, temos o papel principal de a tornar na melhor melodia, que jamais fora tocada aos ouvidos e coração dos outros.
E assim sendo, durante a nossa vida, os ouvintes, as pessoa que nos rodeiam, aprendem a ouvir também elas a melodia da vida e, assim, a tornem cada vez melhor para que, ao som da sua melodia, encontrem o troféu mais desejado, a felicidade.
Tu, vocês, e todo o mundo, deixem entrar a melodia, e que ela preencha os vossos corações de alegria.
Só dessa maneira, poderão corrigir o que há de desafinado na vossa vida.
E, para que no final, todos possam ver que a melhor melodia do mundo, é a das vossas vidas.
Marta Costa
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