O ser humano é um ser pleno de surpresas e de inúmeras capacidades, ainda por desenvolver.
O certo é que, pouco a pouco, ele vai desenvolvendo e aperfeiçoando essas capacidades adormecidas.
Uma delas é a imaginação, a forma como podemos e conseguimos através de pequenos detalhes, imaginar coisas passadas, presentes e futuras.
Recentemente, vivi um acontecimento que originou um explêndido desenvolvimento da minha capacidade imaginativa, em que a minha imaginação superou todos os meus sentidos e pensamentos.
Num dia em que o frio teimava em «obrigar» as pessoas a um retiro em casa, ou a um simples passeio de carro.
O cenário era só um, pessoas fechadas em casa em momentos de laser e, no exterior, filas de carros em marcha lenta de passeio, com vidros fechados protegendo do frio aquelas famílias que, voluntariamente, iam sorrindo à procura de poder esconder o sentimento tedioso, por estarem fechadas e não a pessearem ao ar livre pela cidade.
Imaginei, como seria se eu contrariasse todo aquele cenário!
Foi então que decidi colocar a minha imaginação em prática realista, e fui para a rua juntamente com a minha bicicleta.
Entreguei-me à cidade sem me deixar influenciar pelo frio.
Enquanto pedalava, ia-me apercebendo de variadíssimas coisas que, através dos vidros do meu carro, não me eram tão perceptíveis.
Durante o meu passeio, ia ouvindo os passarinhos a cantar de felicidade, ou até mesmo de protesto pela poluíção que os carros iam deixando à sua passagem.
Imaginei, o que sentiriam eles e como seria a sua reacção perante aquela poluíção toda!
Foi aí que vi os pobres pequeninos a protegerem as suas crias, com as sua asas de penas encardidas de sujidade poluídora.
E vi os machos, em defesa das suas famílias, a cantar numa melodia de protesto para com os poluidores, os Homens.
Continuei eu a pedalar quando senti, por breves instantes, uma pequena brisa que sem hesitar percorreu o meu corpo em pleno, deixando-me arrepiada.
Uma reacção voluntária do meu corpo não pelo frio, mas sim uma reacção de libertação da poluíção que andava no ar, e que teimava em sofucar os meus poros.
Após esse curto momento, dei comigo a ser estranhamente empurrada pelo vento que, insistentemente, me tentava demonstrar a sua força e poder.
Deixei-me levar por ele, e enquanto era guiada pelos seus braços ventosos, fui-me apercebendo ainda mais da intensidade da sua força e persistência.
Imaginei, como seria se eu fosse como ele!
Foi então que me senti forte e poderosa, capaz de empurrar para fora da minha vida todas as coisas más e negativas, e guiar persistentemente as coisas boas e positivas para o meu caminho, para o caminho da minha vida.
Senti-me capaz de tudo sem temer os obstáculos, tal como o vento que não teme nada nem ninguém.
Desliguei-me dessa imaginação e segui com o meu passeio, desta vez tinha chegado a um parque verdejante, onde tudo brotava a Natureza e onde os animais comtemplavam as pessoas com os seus comportamentos naturais da vida animal.
Enquanto pedalava junto da erva fresca, dei comigo a procurar um espaço para mim, naquele quadro tão natural e colorido.
Já sentada, em descanso, sob a frescura verdejante e encostada a uma pequena e solitária árvore, fui invadida por uma pacificidade e harmonia que me contagiou.
Imaginei, ao deliciar-me com aquela Natureza toda, como se sentiriam aqueles pequenos seres maravilhosos e irracionais!
Foi aí que vi, e senti, o quanto eles são felizes naquele «buraco» verde e natural, no meio de uma cidade poluída de betão armado.
Por breves momentos senti-me como eles, livre e feliz naquele espaço onde tudo tinha um aroma a harmonia e vida.
Senti-me realmente em Paz e em harmonia espiritual tal como aqueles animaizinhos, que dedicam as suas vidas a «pintar» um belo e fascinante quandro de Natureza.
Mas, o tempo não esperou por mim e as horas foram passando, quando me apercebi que já era altura de regressar de onde parti, a casa.
De volta à bicicleta começou de novo a minha pedalada, rumo ao meu ponto de partida.
Com muita pena minha, tinha deixado para trás aquela Natureza saudável, para me entregar novamente à poluíção da cidade stressante.
Desta vez, as filas de carros deram lugar a apenas alguns carros que ainda teimavam em passear.
Felizmente, isso proporcionou-me um passeio menos poluído e mais silêncioso onde pude , sem qualquer dificuldade, concentrar-me nos acontecimentos imaginativos que tinha vivido até então.
No entanto, essa concentração não durou o quanto eu desejaria, pois fui interrompida por um acontecimento inesperado e que, rapidamente, se tornou fascinante.
Momento esse em que te vi!
Tu, também tinhas dedicado o teu tempo a um, simples, passeio de bicicleta pela cidade como contrariedade ao frio, que se fazia sentir.
E juntos, como que de destino, seguimos o mesmo caminho, mas desta vez disfrutando a companhia um do outro.
Até que, inevitavelmente, tiveste que fazer uma pausa por motivos de força maior, e onde eu também partilhei essa paragem, como um gesto de camaradagem.
Algo de errado tinha acontecido à tua bicicleta, e eu simplesmente limitei-me a ficar ali, a observar-te.
Foi nesse preciso momento que, fascinantemente, algo se estava a passar comigo, pois rapidamente fui levada para o meu auge de imaginação.
Imaginei, como serias em tempos de criança!
A verdade é que a minha imaginação não só me levou ao teu tempo de criança, como também consegui visualizar-te nesse mesmo tempo.
Sim, a minha imaginação deu lugar a algo mais estranho, pois eu não te conhecia e mesmo assim consegui ver-te como eras em criança.
Eu visualizei-te!
Consegui ver, sem interferências de tempo ou espaço, quando tu eras ainda criança.
Uma criança maravilhosa e cuidadosa, que tentava ansiosamente resolver o pequeno problema da sua bicicleta, para poder regressar às suas aventuras «sobre-rodas».
Vi-te, tão jovem mas ao mesmo tempo tão habilidoso, que num piscar de olhos resolveste o que estava errado, e sorriste por saberes que irias voltar à aventura.
Resolvido o problema, e devolta à realidade, dei por mim a sorrir que nem uma garotinha feliz.
Foi maravilhoso, mas ao mesmo tempo algo estranho, pois tu eras-me desconhecido e mesmo assim consegui imaginar e ver-te em criança, numa época em que talvez eu ainda nem fosse nascida.
Decididamente, e graças a ti tive o meu auge imaginativo, e o maior crescimento da minha capacidade de imaginação, que até então nunca tinha conseguido.
Foi algo gratificante da minha parte, e que ficará sempre gravado e marcado em mim, pois transmitiu-me harmonia espiritual e Paz interior.
O dia chegou, por fim, ao seu limite e por conseguinte deu-se por terminado o meu, e agora nosso, passeio pela cidade, em busca daquela Paz e Harmonia que só contigo consegui que fosse real e plena.
Agora, fico com a esperança de um dia, que sabe, voltar a encontrar-te num outro pesseio e, juntos, conquistarmos novamente esse Bem-Estar.
Marta Costa